Por que essa sensação melancólica o traz tanto prazer? Será que seria melhor se não a sentisse? Os outros riem das engraçadas estórias da televisão enquanto, fechado a eles, ele continua no seu casulo. Algo o diz que eles querem entender o porquê, mas como explicar a outros o que ele próprio desconhece? Como acreditar naqueles que outrora ele achava que eram leais? Agora não parecem se importar por como você se sente.
Ele sabe o que fariam ou não por ele. Ele sente.
Seu corpo aquece pelo fogo do seu olhar. A bebida que antes o libertaria agora o ajuda a fechar-se. A substância o faz falta. O que lhe fez sorrir na últimas horas agora faz-lhe gritar por dentro. Ele vive pensando nas possibilidades e nas suas consequências, faz os cálculos antes, pensa duas vezes sempre que é possível. E não é a primeira vez em que ele tenta realizar o que está planejando.
Embora não esteja planejando. Deixa as ideias fluírem, com o fluxo. Com imagens que passam rapidamente pela cabeça. Por quê? As notas do seu violão que há muito não o decifravam, soam. Entre o grupo das coisas, as menores são as que pesam mais, pensa. Não são os grandes empecilhos que o deixam assim, não. São as pequenas pedras que ele vem carregando em sua bagagem. O instrumento o traduz.
Aposto que ele gostaria de saber fazer. Deixar pra lá, como eles dizem. Como não se importar? Como ser diferente do que ele sempre foi? Contaram a ele que ele era tolo. Não percebia o que faziam a ele, não prestava atenção nos pequenos detalhes. Passou a desacreditar de tudo. E todos. No saldo final, ficou sem ninguém para acreditar ou não. O que não daria para tê-la agora.
Ele quer ser reconhecido por sua batalha. Quer poder dizer aquilo que vem à cabeça sem ter medo do que o responderão. Do que responderás. Do que ouvirá e sentirá, após. Mas não é assim que aparenta funcionar. Não é isso que querem. Talvez seja, mas não é o que parece. E quando é o que parece? Onde está o problema em deixar transparecer? Por que o medo te rodeia quando falas comigo? As perguntas são infinitas e as respostas não aparecem.
É a ideia sem finalidade, o texto sem conclusão. Você simplesmente continua e o deixa continuar. Deixa guiar, deixa envolver. E quando você percebe, já tem o bastante. Mas nunca é o bastante. Ele não é bastante. Seriam essas palavras vazias?
Queira terminar com uma pergunta, faça os indagar. Deixe-os dar o significado que queiram. São espaço vazios com traços negros que já foram fechados. Ele espera que assim fique mais claro, e que fique claro: não há raiva em seus pensamentos. E embora ele saiba que não acreditas, tudo o que diz é verdade. E ele é extremamente temperamental, não há dúvidas. É indiferente a respeito de muitos assuntos inacabados em suas discussões e não quer saber sobre ninguém. Mas se disser que quer, acredite. E quando for a hora de ser recíproco, sejas verdadeiramente. Ou simplesmente não sejas.
As ideias parecem estar alinhadas. Ele para de tocar, levanta e fecha as janelas. Olha para seu copo e desvia o olhar para o quadro na parede. Sente um calor gostoso o rodear e, finalmente, sorri. Sabe que não está completamente melhor mas sabe que suas suaves notas o ajudaram. Revê seus conceitos mais uma vez e espera que, com sua música, faça-os entender. Faça-a entender. E faça-se entender, para que fique bem, pois isso é tudo o que ele quer.
Ficar bem.
Ele não pulou um parágrafo sem relembrar teu cheiro, sem relembrar tua face. Não há como esquecê-los. Não faça isso de novo, portanto. É o pedido que ele faz. Isso é tudo.